Migrânea Menstrual
Conheça as principais evidências sobre migrânea menstrual, fisiopatologia e impacto funcional em mulheres.
Migrânea Menstrual: fisiopatologia e impacto clínico
A migrânea representa uma das principais causas de incapacidade funcional em nível global, com alta prevalência entre mulheres em idade reprodutiva.1,2
Estima-se que até 70% das mulheres com enxaqueca relatem uma associação entre as crises e o período menstrual. Nesse contexto, a migrânea menstrual emerge como uma manifestação distinta, com características clínicas e fisiopatológicas. 1
Definição e critérios diagnósticos da Migrânea Menstrual
A migrânea menstrual é reconhecida pela International Headache Society (IHS) e classificada em duas categorias: 2
- migrânea menstrual pura (PMM): crises de migrânea sem aura que ocorrem entre dois dias antes e três dias após o início do sangramento menstrual.2
- migrânea relacionada à menstruação (MRM): crises de migrânea que ocorrem nesse mesmo intervalo, mas com episódios adicionais com e sem aura em outras fases do ciclo. 2
Em avaliações comparativas, observou-se que as crises associadas ao período menstrual tendem a apresentar maior duração, intensidade mais elevada e resistência ao tratamento em comparação às crises não menstruais.1 Entre 50% e 60% das mulheres com migrânea apresentam crises associadas ao período menstrual, o que reforça a relevância clínica dessa classificação. 2
Bases fisiopatológicas da Migrânea Menstrual
As oscilações hormonais ao longo do ciclo menstrual modulam a atividade de neurotransmissores no sistema nervoso central. Durante esse período, o estrogênio exerce um efeito facilitador sobre os sistemas glutamatérgicos e serotoninérgicos, enquanto a progesterona ativa os sistemas gabaérgicos e regula a ação estrogênica. Essas interações hormonais podem contribuir para a patofisiologia da migrânea.²
Além das alterações hormonais e da modulação de neurotransmissores, evidências indicam que a ativação do sistema trigeminovascular, com liberação de mediadores como o peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP) e a substância P, contribui para a inflamação neurogênica e para a sensibilização central. Esses processos são reconhecidos como fatores determinantes para o surgimento das crises.¹
Impacto funcional e qualidade de vida em mulheres com Migrânea Menstrual
A migrânea menstrual compromete de maneira significativa a qualidade de vida, afetando múltiplas dimensões da funcionalidade física, emocional e social das pacientes. Estudos relacionados indicam que pessoas acometidas por migrânea apresentam maior prevalência de dores corporais, redução da capacidade funcional e comprometimento da saúde mental em comparação à população geral.³
Essas repercussões ultrapassam a esfera clínica, refletindo-se em restrições importantes na rotina diária, limitações para atividades profissionais e sociais e prejuízo nas relações interpessoais.3
Além do impacto físico evidente, observam-se também efeitos indiretos de ordem emocional, como a percepção reduzida de bem-estar, a diminuição da autoestima e o aumento da percepção de limitação pessoal, aspectos que podem agravar ainda mais o quadro clínico e comprometer a reintegração social e laboral. 3
Dessa forma, a migrânea menstrual deve ser reconhecida não apenas como uma condição episódica de dor, mas como um fator relevante de comprometimento da qualidade de vida, que impõe desafios adicionais às mulheres em idade reprodutiva.3
Opções de tratamento para migrânea menstrual
Além do manejo farmacológico, estratégias não medicamentosas têm papel relevante na abordagem da migrânea menstrual, contribuindo para o controle dos sintomas e redução do impacto funcional.4
Entre essas medidas, destacam-se:
- repouso em ambiente calmo, silencioso e com baixa luminosidade;4
- uso de compressas frias na região frontal e temporal;4
- a adoção de técnicas de enfrentamento para o manejo do estresse.4
A educação do paciente sobre a natureza da migrânea e o incentivo à manutenção de registros sistemáticos são intervenções adicionais que auxiliam na monitorização clínica e na individualização das estratégias terapêuticas. 4
Bromidrato de eletriptana no tratamento agudo da migrânea
O bromidrato de eletriptana é uma opção terapêutica para o tratamento agudo da migrânea, incluindo crises com ou sem aura. Seu mecanismo de ação envolve a ativação seletiva dos receptores serotoninérgicos 5-HT1, promovendo a redução da dilatação vascular intracraniana e o alívio da dor e dos sintomas associados, como náuseas, fotofobia e fonofobia. 5
Em meta-análise que avaliou 74 ensaios clínicos duplo-cegos e randomizados, o bromidrato de eletriptana demonstrou a maior probabilidade de proporcionar resposta à dor em comparação com outras triptanas orais.6
Aos 120 minutos, 68,7% dos pacientes tratados com eletriptana estavam livres de dor e 71,6% apresentaram resposta à cefaleia.¹ No desfecho sustentado por 24 horas, 54% permaneceram livres de dor e 87,8% mantiveram a resposta à cefaleia, destacando a eficácia da eletriptana tanto no alívio imediato quanto na prevenção da recorrência dos sintomas.6
Dessa forma, seu perfil de eficácia e o tempo médio de início de ação de aproximadamente 1,5 horas posicionam o bromidrato de eletriptana como uma alternativa relevante no arsenal terapêutico da migrânea.5
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Referências:
1. NÚÑEZ-TROCONIS, J. Menstrual migraine and pathophysiology: estrogens and other factors. Revista Chilena de Obstetricia y Ginecología, Santiago, v. 89, n. 5, p. 339-346, 2024. DOI: 10.24875/RECHOG.24000022. Disponível em: https://www.rechog.com/frame_eng.php?id=243. Acesso em: 28 abr. 2025.
2. FERREIRA, K. S.; BOLINELLI, L. P.; PAGOTTO, L. C. Migraine and menstrual cycle synchrony in females: is there a relationship? Case report. Revista Dor, São Paulo, v. 16, n. 2, p. 156-158, abr./jun. 2015. DOI: 10.5935/1806-0013.20150030. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rdor/a/S4cHLNgv8pKL4TrXyrfPLjm/. Acesso em: 28 abr. 2025.
3. PICANÇO, V. V. et al. Qualidade de vida de pacientes com migrânea relacionada ao período menstrual submetidos à terapia auricular. Semina: Ciências Biológicas e da Saúde, Londrina, v. 32, n. 1, p. 95-110, jan./jun. 2011. DOI: 10.5433/1679-0367.2011v32n1p95. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/seminabio/article/view/4767. Acesso em: 28 abr. 2025.
4. BORDINI, C. A. et al. Recomendações para o tratamento da crise migranosa: um consenso brasileiro. Headache Medicine, v. 5, n. 3, p. 70-81, jul./set. 2014. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/281626329_Recomendacoes_para_o_tratamento_da_crise_migranosa_-_um_consenso_brasileiro. Acesso em: 28 abr. 2025.
5. VIATRIS FARMACÊUTICA DO BRASIL LTDA. Zeforus®: bula do produto. Rio de Janeiro, 2025.
6. THORLUND, K.; MILLS, E. J.; WU, P.; et al. Comparative efficacy of triptans for the abortive treatment of migraine: a multiple treatment comparison meta-analysis. Cephalalgia, v. 34, n. 4, p. 258–267, 2014.
BR-ELE-2025-00014
BR-NON-2024-00084